Trânsito intenso, tempo útil perdido, trajetos desorganizados, acidentes e poluição sonora e atmosférica são problemáticas que acometem grande parte da população brasileira, quando falamos sobre mobilidade urbana. Quem é que nunca ficou algumas vezes preso dentro do carro? Mas é importante deixar claro, que quando tocamos no assunto, não só dos carros vive a mobilidade urbana, principalmente quando o conceito de mobilidade sustentável entra em questão. Existem outros modais que podem e devem ser utilizados.
Confira o texto para saber!
Histórico
Antes de começarmos, vamos comentar brevemente sobre o histórico do sistema de transporte brasileiro. Em meados dos anos 1960, o deslocamento das pessoas nas maiores cidades era feito, principalmente, por transportes públicos coletivos, como os bondes elétricos e trens. Porém, essas modalidades foram perdendo espaço para o transporte motorizado individual, devido à atração dos investimentos da indústria automobilística no país a partir de 1990 e, consequentemente, pelo aumento de políticas que estimulassem a venda e o uso dos carros.
De maneira geral, isso representou um impacto negativo à mobilidade urbana, devido à diminuição de transportes urbanos de deslocamento coletivo ou modais sem necessidade de combustão motora e da diversidade na modalidade de transportes.
Veículos elétricos
Quando comentamos sobre mobilidade urbana sustentável, vem à mente os veículos elétricos, que possuem um maior nível de eficiência energética e menor impacto ambiental em comparação aos veículos a combustão. Apesar de serem uma tendência global e as vendas de carros elétricos estarem aumentando no Brasil com a chegada das marcas chinesas, a popularização dos carros elétricos ainda é um desafio no nosso país, e a tendência é para que o mercado se estabeleça para daqui 10 anos ou mais, muito em função de:
- Falta de infraestrutura, pois a rede de carregamento de veículos elétricos é limitada no país;
- Pouca variedade de modelos em comparação com os carros movidos à combustíveis fósseis, o que acaba não sendo atrativo para o consumidor;
- Custos elevados de importação dos carros elétricos, o que deixa os carros mais caros; e
- Taxação excessiva por parte do Poder Público.
Por outro lado, há projetos que estudam e procuram desenvolver a área desses veículos no Brasil. O Programa 2030, iniciativa do Governo Federal, conecta indústrias, startups e institutos de ciência e tecnologia para desenvolver projetos de inovações tecnológicas no setor automobilístico. Uma das linhas desse projeto consiste no desenvolvimento de soluções para a condução segura de veículos, inovação na aplicação de biocombustíveis e a propulsão alternativa à combustão, desenvolvendo sistemas e peças voltados para veículos elétricos e híbridos. O intuito é promover o desenvolvimento da indústria nacional, gerar menores custos ao consumidor e redução da emissão dos gases de efeito estufa.
Contudo, surge a necessidade de pensar em soluções sustentáveis para a mobilidade urbana que vão além dos carros elétricos. Quando pensamos nessas respostas é necessário pensar tanto nas questões ambientais, quanto nas questões socioeconômicas, buscando um desenvolvimento ambientalmente equilibrado, economicamente viável e socialmente justo para a população, como comentaremos a seguir.
Planejamento Urbano
Um bom plano viário urbano com o objetivo de priorizar o transporte público coletivo em função da maior racionalização de recursos e espaço disponível – pois os transportes coletivos transportam mais pessoas que os automóveis – possibilita o tráfego de mais pessoas em uma mesma via e período de tempo, o que melhora a eficiência da mobilidade das pessoas. Outro ponto é a priorização nesse plano da circulação de pedestres e ciclistas, que, atualmente, não são prioridade em comparação aos espaços destinados aos veículos automotores.
Outra ação visando a melhoria da mobilidade urbana, seria desenvolver um plano de uso do solo tendo em mente moradias próximas às áreas centrais, cidades satélites ou próximos à pontos de embarque de transporte público, incentivando os deslocamentos à curta distância.
Porém, não basta apenas pensar na modalidade de transporte sem pensar em investimento em infraestrutura e políticas públicas de adesão a esse sistema.
Infraestrutura e Políticas Públicas
De acordo com a Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), os custos associados à infraestrutura para carros e motos são cinco vezes maiores em relação ao transporte coletivo, totalizando 85% dos investimentos. Ao mesmo tempo, a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE analisa que no Brasil, mesmo as famílias mais pobres têm mais gastos com transporte privado que coletivo, em função do preço da tarifa que pesa no bolso e da má qualidade desse tipo de serviço em várias cidades no país. Da mesma forma, as tarifas continuam a subir devido à falta de competitividade e produtividade em relação ao transporte privado e à elevação dos custos de operação devido aos congestionamentos. Vemos aqui a relação dos investimentos realizados e a utilização do transporte público.
Nessa linha de pensamento, é interessante a construção de pistas ou faixas exclusivas e preferenciais para o transporte coletivo de passageiros. Dessa forma, mais pessoas conseguiriam utilizar o sistema de ônibus, principalmente em períodos de congestionamento e os automóveis também se beneficiariam sem a presença de ônibus nas pistas.
O mesmo pensamento vale para as ciclovias. As bicicletas, além de poluírem menos o meio ambiente, estimulam o exercício físico e a melhoria da saúde e qualidade de vida das pessoas. Dessa maneira, além de implementar mais ciclovias e torná-las mais seguras, é necessário induzir a sua utilização, criando um bicicletário nos locais de trabalho e mais sistemas de aluguéis de bicicletas nas cidades ou oferecendo algum tipo de incentivo ou benefício para quem utiliza desse meio de transporte.
Já, em relação aos pedestres, é necessário melhorar as calçadas inadequadas, travessias inseguras, construir mais elementos de conforto térmico, como as árvores para fornecer sombra, entre outros. Caminhar é a maneira mais acessível e democrática de deslocamento e, assim como as bicicletas, também garante acesso à saúde e a outros serviços essenciais.
Segurança
Já em uma esfera mais social, podemos citar políticas para tornar as ruas e o transporte público mais seguros, principalmente para as mulheres. Conforme a pesquisa realizada pela Rede Nossa São Paulo em parceria com a Ipec, o transporte público foi o ambiente que gerou maior temor de assédio para 52% das mulheres em 2021, o que estimula as mulheres a optarem pelo transporte privado que o público e a caminhar para seus compromissos. Com isso, enxerga-se a necessidade de soluções para combater o assédio, como o monitoramento constante das ruas, incentivo a denúncias, ampliação da iluminação das vias, vagões exclusivos para mulheres em metrôs, entre outros.
Agora que você leu esse conteúdo, percebe que diversas são as soluções para aprimorar a mobilidade urbana e que elas englobam diversas esferas da sociedade. Da mesma forma que é essencial a sensibilização da população acerca do tema, pois é dever dos cidadãos, junto ao poder público de zelar pelas nossas cidades e vias.
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